No entanto, acreditamos que a substituição não desmerece em qualidade. Bem pelo contrário.
Propomos então revisitar a vida e obra de um caso excepcional na música feita em Portugal através do olhar particular de um dos mais brilhantes cineastas portugueses.
4ª feira | 08novembro2006 | 21:30
Movimentos Perpétuos - Tributo a Carlos Paredes
Edgar Pêra | 2006
Um documentário em 17 movimentos, em que os testemunhos e a guitarra definem o génio, a bravura e a modéstia de Carlos Paredes.
Em “Movimentos Perpétuos – Tributo a Carlos Paredes” estabelece-se um diálogo entre uma guitarra e uma câmara de Super8, numa estética que evoca a memória dos velhos filmes de família, plena de intimidade, revelada na partilha de pequenas histórias da vida.
O concerto de Carlos Paredes no Auditório Carlos Alberto, no Porto, em 1984, é o ponto de partida para o desenrolar de histórias da prisão, resistência, sucessos e amadorismo, relatos marcados pela simplicidade e pela paixão. Em que se revela por exemplo, como Paredes a seguir este concerto toca para o recepcionista do hotel que não pode assistir. Ou ainda de como se servia de um pente na prisão para exercitar a “guitarra”.
O testemunho de amigos e colegas dá-nos a entender um pouco mais quem foi este homem, que embora passando por privações, nunca se queixava, e que nos deixou uma obra genial de valor incontestável, não só pela beleza das suas composições e da sua interpretação, mas também pela dimensão que deu à Guitarra Portuguesa, elevando-a a instrumento autónomo, em vez de ter apenas funções de acompanhamento, e transformando-a num símbolo da música portuguesa além-fronteiras.Fica a sensação de libertação que a sua arte é capaz de produzir, e a mística da obra que deixou, cheia de entusiasmo profundo e nostalgia do futuro.
“Todos os dias, aí pelas 7 da manhã eu sou acordado por um assobio, um assobio duma pessoa que canta assobiando, uma melodia regional, uma canção nostálgica...
A coisa repete-se todos os dias....E uma ocasião deixei de ouvir, e o indivíduo desapareceu, fugiu ou foi p´rá terra.
Qual é a minha surpresa, quando noutro dia ouço o mesmo assobio e fui imediatamente à procura, ver quem era.Então vi um indivíduo com um carrinho cheio de material de construção civil que ele transportava assobiando, completamente absorto, não olhava para ninguém....
Esta canção chama-se "Raíz", que vou tocar. Lembra um pouco isso. Lembra um pouco essa nostalgia de qualquer coisa que está longe e ao mesmo tempo dá um pouco a ideia de uma situação infeliz que impede que a pessoa adira a Lisboa, como deve ter sucedido àquele indivíduo que assobiava aquilo constantemente e naturalmente acabava por se isolar do meio em que vivia.”Carlos Paredes (conversas com o público concerto no Auditório Carlos Alberto Porto 1984)
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